Uma reportagem da Veja BH em 13 de Novembro de 2013 revela que o alto índice de "fofura" na infância já preocupa pais e médicos.
Siga o Link para ler a reportagem completa:
http://vejabh.abril.com.br/edicoes/excesso-fofura-criancas-mira-pais-medicos-759691.shtmlExcesso de fofura das crianças na mira dos pais e dos médicos
Com alimentação pouco saudável e uma rotina sedentária, que inclui várias horas diante da TV ou do computador, nossos pequenos começam a enfrentar doenças de adulto
por Paola Carvalho | 13 de Novembro de 2013

O que faço para que meu filho passe a gostar de legumes e verduras? Modere nos sanduíches, doces e refrigerantes? Use menos o computador, não fique hipnotizado diante da TV e só jogue games com parcimônia, trocando tudo isso, sempre que possível, por esportes e exercícios? Atrás de respostas para dúvidas como essas - que tanto afligem os pais -, mais de 200 mães foram ao Minascentro, no fim de outubro, assistir à palestra de Gabriela Kapim, nutricionista e apresentadora do programa Socorro! Meu Filho Come Mal, transmitido pelo canal pago GNT. “Hoje as crianças controlam os pais e determinam o que vão comer”, diz Gabriela. “É preciso inverter os papéis.” Em silêncio, com olhos e ouvidos em alerta, muitas mães se encontravam ali na esperança de achar uma saída para um dilema cada vez mais comum na família: crianças que ficam longe da alimentação saudável, entopem-se de guloseimas calóricas e vêm se tornando obesas. Uma pesquisa realizada pela prefeitura em escolas da rede municipal revela que um em cada cinco estudantes belo-horizontinos de 6 a 14 anos está acima do peso. E um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que o problema fica mais grave à medida que se sobe na pirâmide socioeconômica. Segundo a última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), divulgada em 2010, nas famílias com renda per capita mensal acima de cinco salários mínimos 51% dos meninos entre 5 e 9 anos estão acima do peso e 30,8% podem ser considerados obesos. No caso das meninas, esses índices são 39,3% e 14,8%, respectivamente. “O mau hábito alimentar e o estilo de vida sedentário antecipam doenças respiratórias, cardiovasculares e metabólicas”, afirma a gerente de referência técnica da nutrição da Unimed-BH, Juliana Algarve Magalhães.
Se a criança ou o adolescente recusa verduras, legumes e frutas, tem o hábito de beliscar, come em frente à TV, não mastiga direito, troca água por outra bebida e não pratica atividade física, é sinal de que os pais estão atrasados: já deveriam ter procurado ajuda para enfrentar o problema. “Mas nunca é tarde para criar novos hábitos”, garante Juliana. É o que está tentando fazer Douglas Silva, de 14 anos, que mede 1,62 metro e pesa 90 quilos. “Estou deixando de comer sanduíche e salgadinhos e de beber refrigerante, mas ainda não faço exercícios”, conta o menino. Outro desafio para Douglas é diminuir o chamado tempo de tela, as quatro horas diárias que passa vendo televisão ou usando o computador. De acordo com Roberta Rocha, coordenadora do ambulatório de obesidade infantil da Santa Casa, o desafio de emagrecer não é exclusivo dos pequenos. “O excesso de peso é fruto de um ambiente errado”, aponta ela. “Os pais são responsáveis pelos alimentos disponíveis em casa e por encontrar o exercício ideal para o filho.”
Na luta contra a balança, é preciso aprender a desvendar a composição dos alimentos, especialmente dos industrializados. O alerta é do médico Cláudio Leone, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo e autor de um estudo - realizado em cinco capitais brasileiras, incluindo Belo Horizonte — no qual mostra que crianças e adolescentes entre 3 e 17 anos estão trocando o consumo de água e leite por bebidas açucaradas, como refrigerantes e sucos prontos. Essa substituição é uma das explicações para o aumento dos casos de obesidade infantil. O resultado da pesquisa de Leone é preocupante. Cada criança ou adolescente deveria consumir até 18 quilos de açúcar por ano. Constatou-se, no entanto, que só de bebidas prontas eles ingerem 21 quilos. “Substituir o refrigerante pelo achocolatado ou suco em caixinha não é a solução”, afirma o médico. “Se a criança está com sede, tem de tomar água.”
Quando se trata de uma alimentação saudável, o açúcar não é o único vilão. O sal faz companhia a ele. “Pesquisas mostram que 76% do consumo de sal vem de produtos industrializados, como salgadinhos, biscoitos, congelados, embutidos e enlatados”, explica o médico Celso Amodeo, chefe do departamento de hipertensão do instituto paulista Dante Pazzanese, que esteve por aqui no início do mês para participar de um congresso da Sociedade Brasileira de Cardiologia. “O indivíduo que ganha peso retém sal e elimina pouco líquido, provocando vasoconstrição, o que leva ao aumento da pressão”, acrescenta. Segundo ele, a hipertensão pode ser genética, mas a obesidade e o sedentarismo são as principais causas. Amodeo reforça o conselho sobre a leitura de rótulo de produtos industrializados: “É preciso observar a quantidade de sódio, que representa 40% do sal do alimento, e o teor de gordura”.
Para mudar o cardápio das crianças, pelo menos dentro das escolas, o governo estadual sancionou em 2009 a Lei nº 18372, que ficou mais conhecida como “anticoxinha”, proibindo a venda de produtos com alto teor de gordura saturada, gordura trans, açúcar e sal, ou com poucos nutrientes. Saíram das vitrines das lanchonetes todos os salgados fritos, por exemplo. Mas a lista dos produtos calóricos que continuam liberados é extensa e inclui tentações como pizzas, além dos sucos de caixinha. “Toda atenção com a alimentação dos filhos é pouca”, diz a engenheira civil Karina Rodrigues. Ela conhece bem as consequências do descuido. Com uma rotina puxada de trabalho, quando ia ao supermercado ela dava preferência aos alimentos prontos para consumo. Seu filho Gabriel chegou aos 7 anos pesando 56 quilos, 22 a mais que o ideal para sua altura e idade. Obeso, o menino passou a ser vítima de bullying dos colegas. Acabou mudando de escola. Por recomendação do pediatra, Karina procurou uma nutricionista e matriculou o filho na natação e no futebol. “Gabriel está empenhado em emagrecer para ser aceito e já perdeu 6 quilos”, conta a mãe. “Não precisava ter chegado a esse ponto.”
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